31 de jul. de 2009

Convite para uma amizade colorida


Percebo que seus olhos pretos
E os meus azuis se buscam, se cruzam...
Mas com sorrisos amarelos,
Disfarçamos o nosso desejo.
Por mim, eu botava mais cor,
Deixava essa amizade bem cor-de-rosa!
E quem sabe desabrochava em vermelho
O sabor da sua pele marrom
Misturada a minha pele branca
Em sensações multicoloridas...
Me dá um sinal verde, vai?

Recomeço




Recomecei podando o jardim
E então, plantei novas flores...
Espalhei por ele mil cores:
Violeta, amarelo, carmim...

Aí, reavaliei meus valores,
Reguei meus planos e afins.
E com tudo pronto, enfim
Venci e cessei meus temores!

O céu se abriu para mim...
Falou de novos amores,
Que não há vida sem dores
E me ensinou a viver assim...

Recomençando em meio aos pesares,
Pois nem mesmo o morrer, é o fim.

A busca


Olho-me no espelho,
Busco-me e percebo
Que na imagem que vejo,
Já não me encontro mais...
Ela já não reflete
Tudo que sou...
Tudo o que há em mim...
Do que sou capaz...
Desespero-me!
Mergulho em mim mesmo
Na imensidão do meu próprio olhar...
Azul,
Tenso,
Vermelho...
Que de tão cheio,
Põe-se em minha face a marejar...
Transbordando tudo o que há em mim,
Tudo que não posso mais carregar...
E tudo que há em mim há a esmo!
Que às vezes chego a pensar,
Que já não há espaço para mim mesmo.

Esperança


Eu queria fazer um poema
Cheio de luz e de esperança
Que dissipasse todos os problemas
E trouxesse a tona a mais linda lembrança.

Queria eu em humildes versos,
Expressar a riqueza da fé,
Ensinar o caminho do amor
E acender uma chama qualquer.

E queria uma vida cheia de crença!
Uma verdade menos ingrata,
Onde não houvesse tanta diferença
Entre o pé descalço e a gravata!

Queria saber da vida o enredo
Pra viver como uma criança,
Brincando e sorrindo sem medo,
Depositando no outro confiança.

Mas sinto o quanto cresci,
O sofrimento tornou-me grande...
E hoje só levo incertezas
Por onde quer que eu ande.

Se no caminho há flores,
Em maior proporção estão os espinhos...
Nos ensinam muitos valores
Que apanhando aprendemos sozinhos.

Tudo é muito imprevisível...
E é preciso contar com a sorte,
Já que a única certeza da vida,
É a de que um dia chegará à morte.

Então, é preciso acreditar!
Persistir, não desistir da luta!
Não basta apenas sonhar...
Felicidade provém de labuta!

Se cada um fizer sua parte,
Espalhando a semente do amor...
Através da bondade ou da arte
Seja da forma que for,

Unidos faremos milagres!
Uma só andorinha não faz verão,
Mas sei que juntos somos capazes
De mudar o futuro da nação.

30 de jul. de 2009

As estações em mim


É julho no calendário.
Há dias chove...
Sinto meu olhar úmido;
É inverno em mim também.
Me vi secar no outono
Depois que as pétalas do amor
Florescido na primavera,
Caíram no chão...
Foi um lindo verão!
Uma Feliz quimera
Que chegou ao fim.
Hoje a dor da sua ausência
Corrói... dilacera...
Na esperança de contê-la,
Espero uma trégua da chuva
Para fazer um pedido à estrela.

Inspiração


No silencio da noite a alma desperta
E insone aguarda a inspiração
Que há de chegar pela janela aberta
Para guiar a minha mão...
No silencio desta noite iluminada,
Ouço apenas o ritmo, a pancada
Do meu inquieto coração...
Quero escrever um verso
Que me alivie este anseio em que anda imerso
Este desejo de libertação!
Quando a inspiração vier,
Neste supremo instante,
Sobre o papel triunfante,
Meu coração sem se deter si quer,
Feliz escreverá uma oração.
Porque para mim,
Escrever um verso
É um momento incontido de fervor e paixão.
É como fazer de joelhos o relato
De tudo o que acontece em nosso coração.
Assim... quando sinto a chegada da inspiração,
É como o ruflar de asas de aves presas
No momento da libertação!
Fogem elas das grades da prisão
Como as pombas revoam a luz do dia...
E é assim que sinto minhas mãos
Quando sobre o papel em branco,
Escrevo minha poesia!

Cada poeta com a sua realidade




“Dia de luz, festa do sol
E o barquinho a deslizar
No macio azul do mar...”

Bem que eu queria
Abrir a janela,
Estar de frente para o mar
E naquela visão bela
Ver barquinhos a deslizar....
Bem que eu queria!
Mas sou da periferia
E a minha poesia
Tem outra história pra contar...
Quando abro minha janela,
Vejo becos e vielas,
Mas é linda a poesia que sai lá da favela!

“Tudo é verão, amor se faz
Num barquinho pelo mar
Que desliza sem parar...”

Lá, nem tudo é verão...
O outono dura mais
E o inverno é de arrepiar...
Mas amor! Amor a gente faz!
Com amor se vive mais!
Porque o amor, na quebrada,
É a receita da vida, do samba, da batucada...
A alegria da molecada
Que corre solta de pés no chão,
Jogando bola, brincando de polícia e ladrão...
Da rapaziada na cerveja gelada,
Da dona de casa na beira do fogão.

“Sem intenção nossa canção
Vai saindo pelo mar e o sol
Beija o barco e a luz
Dias tão azuis...”

Já a nossa canção
È muito bem intencionada.
O rap faz a revolução
Na mente da rapaziada!
Mescla a sombra com a luz,
Mostra pra onde o crime conduz...
E que uma vida digna e honesta
É sempre bem recompensada.
Nem tudo é azul,
Nem tudo é festa,
Mas a paz na consciência
É a melhor das promessas!

“Volta do mar desmaia o sol
E o barquinho a deslizar
E a vontade de cantar.

Céu tão azul, ilhas do sul
E o barquinho coração
Deslizando na canção.

Tudo isso é paz,
Tudo isso traz
Uma calma de verão e então...”

Zona norte, zona oeste,
Zona leste ou zona sul,
Quem ama a periferia
Quer transformá-la num mundo azul!
Onde reine a igualdade,
O respeito a humildade,
Onde a justiça social
Não fique só na vontade!
Quer que todos tenham o pão
Pra que a calma do verão
Finalmente,
Chegue até nós e então...

“O barquinho vai
E à tardinha cai.

O barquinho vai
E à tardinha cai.”

“...à que sentido flores prometeram um mundo novo?
Favela, viela, morro, tem de tudo um pouco...”

Poema: Camila Patrícia Milani
Música: “O barquinho” de Ronaldo Bôscoli
Trecho final: Grupo Z’Africa Brasil
(Antigamente quilombos, hoje periferia)

Não faço poesia...


Apesar da métrica
Das rimas, da homofonia...
Confesso:
Não faço poesia.

Vivo alienada da aliteração,
Assombrada com a assonância...
Às vezes busco a perfeição,
Às vezes, só rabisco minha ânsia.

Mas afirmo com segurança:
Não faço poesia.
Ela já existia
Desde que eu era criança.

É livre, natural...
Sinestesia,
Antropomorfia...
Presentes em um mundo real.

Só precisa ser percebida,
Decodificada,
Explorada...
Aí, basta transformar em palavras.

Pronto.
Fácil assim!
Por isso digo que não faço poesia,
É ela quem faz a mim.

Melhor assim




Não quero causar sofrimento...
Então peço encarecidamente:
Não deposite em mim seu sentimento.
Não me espere voltar...
Não pense no amanhã.
Viva apenas o momento.
Porque sou muito inconstante...
É melhor que seja assim,
E lhe quero um bem tão grande
Que é necessário protegê-lo de mim.

Akins




Vi a mãe África estampada no teu peito,
A consciência enraizada em tuas veias,
Vi em ti o orgulho de ser preto;
Mas senti um peso enorme
Sobre o meu frágil esqueleto.

Era o peso da minha pele branca,
Que reavivava a lembrança
De um passado vivido
Pelos nossos antepassados:
Feitores e escravos...

Mas hoje, quem é o culpado?
Sei que a sociedade fere,
Mas eu, estou do teu lado.
Sou apenas uma branca quilombola da periferia!
Acorrentada pelo sistema
Que aprisiona brancos, pretos e miscigenados.

Pode Zumbir daí!
Que eu Zumbirei daqui!
Dandariando nosso eco
Da zona sul a zona norte.
Porque se Zumbirmos juntos,
O grito da periferia se torna mais forte!

Enchente


De repente o céu nublo.
Daquele jeito que faz dia virar noite de repente...
Aí, bateu uma preocupação...
Roupa no varal, colchão,
Janela aberta, menino na escola
E o medo da inundação...

O céu desabou!
Ah meu Deus!
Tomara que eu chegue a tempo...
Porque faz tão pouco tempo
Que não deu tempo de chegar!
E foi a maior tristeza
Chegar em casa e ver minhas coisas a boiar...

Ah meu Deus!
Será que vai dar tempo de chegar?
Ônibus lotado, trânsito parado
E eu aqui, em tempo de enfartar...
Geladeira, fogão, sofá...
Ainda nem terminei de pagar!

Ah meu Deu!
O Senhor tem que me ajudar!
Porque se dessa vez eu não chegar a tempo,
Vou desistir de rezar...
Que vida é essa de lascar?
Ah Deus! Será que vai dá tempo de chegar?

Cumplicidade sem liberdade


Não previ... nem sequer podia imaginar...
Você sempre respeitoso, quietinho
E esse seu sorriso insistiu em lhe entregar!
Fui me envolvendo com o seu jeitinho...

Pensei: Dois cachorros! Hão de combinar!
Nós seguíamos para o mesmo caminho
E havia apenas desejo em nosso olhar...
E do que era só sexo, foi carinho...

Uma assustadora cumplicidade!
Sim... entre risos, suspiros e poesia...
Não havia pudor em nossa verdade.

Sem futuro... aproveitamos o dia.
Nossa realidade, só amizade...
Pois nós não tínhamos carta de alforria.

Soneto à minha loucura


Dizes que sou completamente louca...
Que sou louca por tanto desejar-te !
Mas acredito que a loucura é pouca
Ante a volúpia ardente de amar-te.

O magnetismo que me atrai à tua boca,
O devaneio que me leva a beijar-te,
Este ânseio que faz parecer-me louca
Quando me pônho a desvendar tua arte...

Há uma mistura no meu sentimento...
Um misto de Dionízio, Eros, Psiquê...
Perdi o domínio do comportamento,

Me sinto estouvada e não sei o por quê...
Loucura querer-te a todo momento?
Assumo... Sou Louca ! Fazer o quê?

Namorado


Ah! Tens sido minha melhor companhia!
Gosto do teu título: namorado!
Nome por tantas vezes rejeitado
Hoje, por mim dito com tanta alegria!

Em noite quente transpiras pecado...
Percorre minhas estações com maestria...
És cobertor de orelha em noite fria.
O mais belo amor já desabrochado!

Ah! Sentimento profundo, sentido...
Que me faz sonhar, com um ar de riso!
Ora alegre extasiante... ora sofrido...

Faz de nós adolescentes sem juízo!
Amor amante, amigo, amor querido!
Tudo que preciso! A fuga ao paraíso!

Meu sol


Você surgiu como aurora!
Com a alegria das flores,
O canto dos pássaros...
Enchendo minha vida de cores.

Veio como um dia lindo de sol!
E quando o sol invade a vida da gente...
Tudo se torna mais claro,
Tudo se torna mais quente...

Às vezes as sombras me apavoram...
São reais e brincam com a minha imaginação...
Elas querem me proteger do sol,
Refrescar o calor da paixão...

Mas todos sonham com um lugar ao sol...
E disso, eu não abro mão!
E mesmo que eu venha a queimar...
Quero você sol, em meu coração.

Sobre os trilhos


A trepidação anuncia a locomotiva.
Não há volta... não há saída...
Sinto-me amarrada!
Qual mocinha em perigo.
Ultrapassei a faixa amarela... estou sobre os trilhos!

Com a sorte nas mãos de um maquinista entorpecido,
Dormente...
Como os dormentes...
Estando do juízo completamente ausente...
Entrego-me à derradeira esperança!

Que os anjos venham me ajudar...
Que haja tempo!
Que ele consiga frear...
Que aja, em tempo!

Fraqueza


Amor?
Amor não!
É pesado demais,
Difícil de carregar.

É tão pesado
Que seu peso chega a marcar...
Dói...
Tira o ar.

Amor?
Amor não!
Sou fraca demais para suportar.

Só um ponto de vista


Assim com não se julga um livro pela capa,
Não se deve julgar ninguém pela carcaça!
Essa pele branca que me cobre
Não faz de mim plebéia e nem nobre...

Essas janelas azuis por onde eu vejo o mundo,
São apenas janelas...
Se fossem verdes, marrons, negras, amarelas...
Não me trariam visões mais feias e nem mais belas!

O que importa os cabelos loiros que me taxam de burra!
O que importa os cabelos pretos taxados de mil e uma utilidades!
Se aqui dentro um sentimento urra
Que partilhamos de uma única identidade: “A Humanidade”!

Somos todos reflexos de um passado podre, recente...
Que nos rotulou e nos dividiu por raças,
Uns como caçadores, outros como caça!
Quando na verdade, todo mundo é gente!!!
Todo mundo sofre! Todo mundo sente!...

Há milhares de anos o chicote vem mudando de mão...
Egípcios aprisionando Judeus,
Brancos aprisionando negros irmãos...
Não adianta mudar de mão...
Ao chicote: Não!!!

Dizem que só houve um homem perfeito
Ao qual chamamos de Jesus Cristo.
Para muitos apenas um mito,
Para outros um grande exemplo.

E embora branco ele seja retratado,
Por um raciocínio lógico
Podemos concluir que Cristo
Na verdade era pardo!

Se houve realmente um homem perfeito,
Ele não era branco e nem preto;
E mesmo não assumindo a cor de nenhum dos lados,
Foi chicoteado!
Crucificado, sacrificado...

Desejo


Eu o observava com admiração...
E em meio à multidão
Meus olhos buscavam os teus...
Oh Deus!

Perdoai-me de tanto pecado,
Por esse desejo embriagado
Que parece não ter fim...
Quero sentir teu gosto, teu corpo, teu suor em mim...

Lábios de mar que tocam a areia...
Sol que aparece, aquece, incendeia...
Tsunami invadindo o paraíso
Tirando-me do eixo, levando-me o juízo...

Ajudai-me deus Baco!
Dionísio...

Se Deus é por nós...


Dizem que Deus é brasileiro...
De onde esse ditado veio?
...1931, numa plataforma no Corcovado,
Pairando sobre o Rio de Janeiro
Um grande Cristo foi inaugurado!

E foi desde então,
Reconhecido e consagrado
Como Rei e Senhor desta nação...
Mas se cristo está do nosso lado,
Que força é essa que nos oprime?

Tanto sangue inocente derramado,
Tanto caos, tanto crime...
Observando a cidade maravilhosa,
O Cristo deve estar horrorizado!
Isso se não estiver machucado,
Por balas perdidas, todo furado...

Cristo, “O Redentor”...
O Homem que veio redimir do pecado...
Instalado sobre o terror,
Sobre um povo amedrontado.

Tanta violência aos seus pés...
Bandidos armados contra bandidos fardados,
Crianças mortas, pais revoltados...
Besouros de chumbo alvoroçados...

Para a polícia?!
Todo mundo é do crime organizado!
Se é pobre ou preto,
Tá ferrado!!!
É considerado culpado.

E de Cristo, “O Redentor”,
A lembrança de um mandamento:
O amor!
Amor que ao próximo hoje é negado.
O que posso eu esperar do mundo
Se nem mesmo o Grande Cristo é respeitado?

Madrugada


No delírio da madrugada,
Trago em minha face orvalhada
A dor de mais uma paixão...
Que antes de florescer
Morreu ainda em botão.

Sou mesmo assim;
Sentida,
Derramada do inicio ao fim...
Não me importo em chorar.
A dor sempre traz consigo
A lição para um novo amar.

Sou mesmo assim;
E pelos olhos hei de derramar
Tudo o que por ventura
De ti ainda restar...

Depois, nova, revigorada!
Sei que vou me levantar...
É pra isso que serve o choro:
Águas, para os resíduos lavar...

E como não sou de rastejar,
Amanhã a madrugada apenas servirá
Para me inspirar um novo sonhar
.

Aceitando o fim


O fim...
Um capítulo findado,
Uma página virada,
Um livro que foi terminado,
Uma porta que foi fechada...
Enfim...
Mais uma etapa concluída,
O fim de um ciclo na vida
E é preciso aceitá-lo,
Seguir a diante,
Não ficar parado.
Não é possível viver o presente,
Estando preso no passado.
Desprenda-se...
Deixe que vá embora...
Saia...
Enfrente o mundo lá fora!
A vida não é um jogo de cartas marcadas,
Às vezes perdemos...
Às vezes ganhamos...
E enquanto uma porta é fechada,
Outras estão sendo escancaradas.
Coragem!
Não espere uma vida inteira,
Mude o disco,
Limpe a casa,
Sacuda a poeira!
Deixe de ser quem era
E seja quem realmente é.
Erga a cabeça e lute com fé,
Pois não existem feridas
Que não cicatrizam no coração
E tudo o que acontece na vida,
Acontece sempre por alguma razão.

Marcas do tempo


Insisto... minhas marcas do tempo carrego...
Marcas de expressão, marcas de envelhecimento...
Algumas adquiridas com o sofrimento
Outras por ter elevado demais o meu ego.

Sem descrição, nenhuma vergonha carrego.
São como troféus que tatuam os meus momentos...
Assumo-as com a cabeça erguida... não as nego!
Meu corpo não foi imune ao tempo. Não lamento.

Os momentos bons propiciam prazer e alegria,
Os ruins para o crescimento são reservados...
Aprendi a diferenciar o real da fantasia,

E os sofrimentos não devem ser ignorados...
Os meus, além de marcas, viram força e poesia
Para que por outros, possam ser observados.

Coração Cooperifado


Senti vontade de compor um verso.
Um desejo súbito de paixão.
Aí procurei inspiração no Universo,
Mas ele fechou as portas, disse: Não!

Desesperada por não obter sucesso
Me recolhi em meu próprio coração.
Pude ouvir um som em poesia submerso,
Diversas vozes em um só refrão.

Eram de um povo lindo, inteligente...
Emergindo dos becos e das vielas.
Agora era gente da minha gente

Alimentando essa minha quimera!
Inspiração? Veio, como um verão quente...
Coração Cooperifado... pudera!

29 de jul. de 2009

Soneto à Lúcia Helena


Ela é taurina, sob Vênus regida,
Foi destinada à comunicação.
Jornalismo, poesia e samba-canção,
Mancam a trajetória de sua vida.

Teimosa, ouve o seu próprio coração.
Decidida, apaixonada, atrevida...
A razão pode se dar por vencida!
Pois Lúcia Helena é toda emoção.

Em seu plano de vôo, quer ser estrela,
Iluminando o imenso céu noturno.
Mas é brilhante, já se tornou estrela!

E se um dia a morte encerrar o seu turno;
Estejam certos, poderemos vê-la!
A passear pelos anéis de Saturno...

Soneto ao sonetista


Embora nascido e criado no gueto
Ele conseguiu chegar à academia...
Sempre foi fascinado pela poesia,
Mas lá, conheceu melhor o soneto.

Ouviu atencioso o que o seu mestre dizia:
“Uma forma fixa compõe um soneto,
Não só dois quartetos e dois tercetos ”...
E ele, quis fazer como Camões fazia...

“São versos decassílabos menino,
É uma forma difícil!”– Mestre alertou...
De decassílabos à Alexandrinos,

Um grande sonetista se consagrou...
Jamais saberemos se foi o destino,
Ou só o florescer de um menino que ousou...

Ainda


Ainda sinto a tua ausência presente em mim...
Um amor, quando intenso é mesmo assim,
Perdura a intensidade para o fim.
Ainda me sinto só, vagando na multidão,
E a cada passo que avanço,
Vejo apenas os meus pares de pés no chão...
Já não o tenho ao meu lado,
Não sinto o calor das tuas mãos...
E sinto meu corpo ferver em libido
Implorando a Deus para estar contigo,
Sem poder saciar minha sede
Na mistura do nosso fluído.
Ainda os teus lábios almejo,
Ainda espero por aquele beijo
Que hoje, tornou-se apenas desejo.

Medo X Amor


Admito, é bem verdade... tenho medo...
E o medo vem consumindo meu ser...
Um medo que faz com que eu ame em segredo.
O meu futuro? – Não consigo prever...

O medo faz ser tarde, quando é cedo.
Ofusca-me o horizonte, o meu viver...
Ele construiu em mim um grande rochedo;
Mas ao mesmo tempo, o amor me faz crer!

Manter o equilíbrio agora é um desafio...
Já que ambos os sentimentos coexistem
Na correnteza de um único rio...

Disputam o mesmo espaço, fio a fio...
O medo e o amor, lado a lado persistem,
O amor me aquece, o medo dá calafrio...

Apresentando o Brasil


Quem vê lá de cima
este grande planeta azul
Não sabe e nem imagina
o que se encontra no Hemisfério Sul...
Seguindo a linha do Equador no sentido Ocidental,
Banhado pelo Atlântico está o Brasil,
país tropical.
Da nascente do Moa à Ponta do Seixas,
dá nascente do Ailâ ao Arroio Chuí...
Terra bela como esta
juro à Deus que nunca vi!

Se te assustas com a grandeza,
com tamanha extensão,
Te surpreenderás com certeza,
pois é maior no coração!
No rosto de cada brasileiro
se descobre a miscigenação...
Essa mistura de raças
que provém da imigração.
Aqui cabe sempre mais um,
e não é só um ditado sutil,
Esta é a real imagem
desta Pátria Mãe Gentil!

Enquanto em outros países
há imponentes monumentos,
Aqui Cristo com os braços abertos
observa o movimento!
E quem vem lá do estrangeiro
e vê um povo tão feliz,
Sai daqui acreditando
que Deus nasceu neste país.
É uma terra linda ao nosso olhar,
mas a lista de problemas é longa...
Pois como é de se esperar,
onde há luz também há sombras.

Em meio a tanta beleza
há um cenário contrastando,
É o da fome, o da pobreza,
o de crianças trabalhando...
Nas roças, carvoarias,
nas pedreiras, esmolando,
Fazendo malabares
e nos morros traficando...
É dura a realidade quando passamos a enxergá-la,
Nem tudo é felicidade,
falta muito para alcançá-la...

E entre os nossos governantes
há tanta corrupção!
Muitos nem trabalham pra mudar,
mas só pra molhar a mão.
E o problema principal é de difícil resolução,
É a desigualdade social
o maior mal desta nação!
Com tanto avanço científico,
essa tal globalização...
O rico fica mais rico,
mas para o pobre, falta o pão.

O trabalhador perdeu o valor,
o desemprego só vem aumentando...
Causando uma crise de horror...
tem até pai de família roubando.
E nas grandes capitais
o povo se sente acuado,
Mesmo tudo estando em paz
ainda há o crime organizado...
Mas se achas que isto é o caos,
que eu apaguei toda a beleza,
Que em meu país não há mais nada
além de violência e pobreza?

Te enganas meu amigo,
esta visão podes mudar...
Até mesmo o sofrimento
tem o poder de lapidar!
Brasileiro tudo supera!
Mesmo do caos estando à beira...
Foi do medo da chibata
que nasceu a capoeira!
E quando na necessidade,
achavam que não dava pra fazer mais nada,
Aqui, da carne não aproveitada
inventaram a feijoada!

Setenta por cento da vida de todo o planeta
se encontra no Brasil!
Porque este é o país mais rico em biodiversidade
e lugar assim nunca existiu.
E além da bela paisagem,
que é o seu cenário natural,
Povo alegre e caloroso,
como aqui não há igual!
Aqui se dá jeito pra tudo
de uma forma bem carinhosa,
Porque o que não tem jeito
acaba em uma pizza saborosa...

Por driblar dificuldades,
é o número um no futebol...
E pelo povo viver sambando,
virou país do carnaval!

Inteligência?


Às vezes fico me perguntando:
O que há de errado com o ser humano?
E acabo chegando à conclusão
De que a racionalidade é a nossa maldição.

Observe a natureza,
Plantas e bichos em comunhão,
Em uma diversidade de beleza
Independente da coloração.

Como pode o ser humano
Querer atingir a perfeição,
Se comportando como um animal insano
Desgraçando a vida do irmão?

Inteligência?
Tem certeza?
Desde quando tonalidade
É sinônimo de beleza?

Nosso amor


Quando encontrei você,
Até o Olimpo estremeceu...
E não houve poder maior
Mediante ao que aconteceu...

Nem Hermes que é o Deus do sonho
Sonhou que era possível,
Viajar até as estrelas
E conhecer o paraíso.

Nem as forjas de Hernesto
Produziram maior calor
Do que os beijos e as carícias
Que trocamos com amor...

Dionísio, o Deus do vinho,
Ficou completamente perplexo
Quando nos viu em delírios
Embriagados pelo sexo.

E Afrodite ficou enciumada!
Até a Deusa do amor
Sentiu-se ameaçada!

Porque foge ao controle de Zeus
A atmosfera que se forma
Quando estou nos braços seus...

Sem limites


Te vi louco de amor, ébrio,
Percorrendo meus caminhos...
Fez-me perder o equilíbrio,
Caí no mar dos teus carinhos.

Afoguei-me nos teus beijos
E você naufragou em mim...
Agitava o mar desejos,
Nossa libido sem fim.

Eu me agarrei aos teus cabelos,
E então ganhei a superfície.
Cavalguei o corcel em pêlos

Sob a bênção de Afrodite.
Chegamos aos céus trêmulos,
Excedemos os limites.

Quem sou?


Hoje já não sei quem sou...
Antes eu sabia exatamente;
Eu era a mulher que ousou!
Forte, cachorra, valente...

Mas minha própria ousadia
Me traiu, me desarmou...
Usou de um homem poesia
Para inverter tudo que sou.

Valentia, já não consigo ter,
Meu lado cachorra aos poucos morreu...
Hoje sou só um frágil ser,
Onde a força em paixão se perdeu...

Marisco


Uma dor me consome...
Estranha sensação...
Sentimento ao qual não sei dar nome
Dilacera o coração...
Meus olhos transbordam em gotas amargas...
Não me aliviam...
Só trazem sua lembrança.
O gosto de mar em minhas lágrimas,
“Salgadas”!
Faz- me sentir um marisco
Entre as pedras esmagada.

28 de jul. de 2009

As fortes sobrevivem


Ah! Se pudessem compreender
A incompreendida alma feminina!
Sentir o sangue ferver
Ao descobrir-se mulher quando menina...

Ah! Se pudessem viver
Essa mutação hormonal!
Cólica, TPM, as mudanças
Da idade gestacional...

Se vivessem essa jornada
Sentindo a angústia e o temor
Por um dia ter sido destinada
A parir com dor...

Ah! Se pudessem de fato compreender...
Ou ao menos lembrar sequer
Que a sua primeira morada,
Foi o ventre de uma mulher!

Talvez tivéssemos mais valor...
Talvez houvesse mais respeito
Diante de um mundo de tanto terror...

Situações humilhantes,
Tanta injustiça...
Mulher virando troféu de traficante,
Barganha de viciado machista!

Exploração sexual,
Revista ilegal, abuso de autoridade policial,
Violência física, emocional...
Vergonha no piso salarial!

Ah! Homens... se tivessem a exata noção...
Entenderiam de onde vem essa força inabalável
Essa necessidade de ser guerreira,
De ser leoa indomável!

Teus olhos




Quando te conheci, tinha olhos de cachorro: pidões...
Transpareciam apenas uma carência intensa...
Mas o tempo acaba aprimorando nossas visões
E hoje, nos teus olhos vejo uma tortura imensa...
Uma sombra de noite entre vagos clarões,
Nesta tua expressão incerta de quem pensa,
Vivendo sempre o terror das interrogações...
O tempo se esvai em nossa inquietude...
Enquanto teus dizeres ocultam tuas aflições...
Sei que sabes da tua incompletude,
Mas vive nas loucuras das meditações.
O medo paralisa tua alma moça,
Não és como a água viva em loucas enxurradas,
Mas como água morta, fria e parada em uma poça.
Hoje vejo teus olhos como janelas escancaradas
Buscando alivio na noite, na lua, na madrugada...
Tentando povoar os cômodos de uma velha casa abandonada.

Máquina de manipular


Agora,
As correntes são virtuais,
Sedutoras...
Invadem o seu lar,
Envolvem sua família,
Você entra na modinha...
Modifica o seu falar,
O seu agir...
Limita o seu pensamento...
Desligue o controle remoto enquanto há tempo!
A TV é o Pinóquio,
Mas o fantoche é você.

Periferia


Na periferia, a poesia emana!
Poesia de gente que sofre,
Que se indigna, que ama...
Gente que de tanto sentimento inflama!

Na poesia, a periferia emana!
Retratando no canto e no grito,
A vida periférica normal,
A vida periférica insana...

Há poesia da vida!
Da vida por vezes desumana,
De gente que sonha e acredita,
De gente perifericamente humana!

O Sol e a Lua

O sol se apaixonou pela lua
Quando a viu ao longe sob os seus raios
Em sua fase nova...
E insistiu em amá-la
Colocando sua natureza a prova.

A lua, correspondendo à paixão
Entrou em fase crescente e tornou-se cheia de amor...
Com seu brilho prateado inspirou poetas e autores,
Fez feliz, casais de namorados
E deu um brilho novo às flores.

Mas quando olhou para as estrelas,
Ficou completamente desolada...
Descobriu que seu astro amado
Não derramava seus raios apenas
Sob o seu planeta azulado...

Minguou-se em sua decepção...
Do céu foi sumindo aos poucos...
Até tornar-se total escuridão...

Renasceu em fase nova!
Mas se viu só,
Sem as estrelas por companhia.
Percebeu então que era dia
E que os raios do seu amado a cobria.
Sentindo-se aquecida por ele
Deixou-se levar pela paixão...
E revolvendo todos os sentimentos,
Repete esse mesmo ciclo desde então.

27 de jul. de 2009

O mergulho



Gosto da sensação do mergulho...
Por isso sempre me jogo,
Calma,
Mas profundamente...
Volto à superfície,
Respiro...
E mergulho novamente...
Revolvo e me envolvo
Eloqüentemente...
Mas com calma...
Com cuidado...
Para não espalhar água para todos os lados...
Porque além de mim,
Ninguém mais precisa sair molhado.

Homens Pássaros I


Os homens são como os pássaros:
Com belezas diferenciadas,
Cantos encantadores
E também dotados de asas.

E há pássaros e homens
Totalmente domesticados,
A liberdade os mataria de fome
Porque só pelos donos são saciados.

Tem alguns que já tem o seu dono,
Mas se arriscam em vôos rasantes...
Ainda pensam que são livres
E que podem voar como antes...

Iludidos de asas podadas!
Pobres coitados...
Pensam que tem liberdade
Só por não viverem engaiolados...

E tem aqueles que vivem em plena liberdade!
Pulam de galho em galho sem apego sentimental,
Só assim podem voar a vontade
E aprisioná-los, seria um crime ambiental!

Homens pássaros II

Outro dia,
Enquanto mergulhada em poesia...
Um pássaro pousou em minha janela,
E cantou-me uma canção bela.

Eu me aproximei...
Queria ver que tipo de ave era aquela.
Tinha plumas negras,
Um olhar de amigo aquarela...

Nascido para ser livre!
Um típico pássaro cantador,
Mas que naquele momento
Necessitava de um ninho de amor!

Trouxe consigo o calor para aquela noite fria...
E fez promessas de que iria voltar...
Foi mais um pássaro que virou poesia!
Voou... afinal, sua vida é voar!

Gosto deles assim...
Soltos, me surpreendendo com seu cantar...
Por isso mantenho minha janela aberta,
Porque sempre aparece um a pousar.

Pobre homem orgulhoso de si!


Pobre homem orgulhoso de si,


Envaidecido por sua própria vaidade...


Pensa que são seus todos os versos que escrevi.


Pobre homem orgulhoso de si...



O que o faz pensar que longe ou perto


Ainda me enlouquece?


O que o faz pensar que em meus desejos


Sua figura prevalece?


Pobre homem orgulhoso de si,


Envaidecido por sua própria vaidade...


Inspirou-me alguns versos,


Isso é verdade.



Mas sou um mosaico de sentimentos...


Mudo como o tempo!


E meus infinitos momentos


Sempre se acabam...


Quer saber a minha verdade?


Se merecido, sou sol,


Se for preciso, tempestade...


E desequilibradamente equilíbrio minhas emoções...



Entrego-me,


Total e verdadeira...


Mas quando retiro-me,


Retiro-me por inteira!


Podre homem orgulhoso de si...


Já teve o seu momento...


E eu sou como os ponteiros do relógio:


O tempo pode me levar a passar pelo mesmo lugar,


Mas não me fazer voltar.


VINGANÇA


Ontem,


Beijei outra boca...


Língua, saliva, pescoço, ouvido...


Senti outro cheiro...


Perdi o juízo...


Quis vingar-me dos seus casos,


Entregar-me ao acaso


Sem medo do “pre” ou do “pré” juízo!


Ontem,


Entreguei-me a uma ventura...


Quis vingar-me do seu prazer,


Da sua luxúria...


Do seu aconchego em outros braços,


Do seu sexo sem ternura...


Quis lhe dar do seu veneno!


Desse seu modo obsceno


De desapego total...


E fiz e agi feito você,


Por puro extinto animal!

Desnorteada




Já fui de enxergar longe...
Mas hoje, minha visão quase turva
Engana-me,
Surpreende-me...
Como se em todos os caminhos
Surgissem curvas de repente.

Antes conseguia prever
O que encontraria após dobrar a esquina,
E sabia exatamente para onde ir.
Hoje, sem nenhuma intuição
Caminhamos sozinhas:
Eu e minha própria sorte.

Sem direção,
À deriva em um mar revolto...
Tentando manter o controle
Daquilo que já fugiu ao controle;
Vivendo em liberdade!
Como um pássaro de asas podadas.

Piriquitinha


Eu tenho um namorado
Que não gosta de carinho...
Se esquiva dos meus abraços
E foge que nem passarinho!

E eu carente de afagos
Tenho que sair do ninho
Em busca de um gavião,
Disposto a me dar carinho.

Gavião sim é um bicho esperto!
Sabe tratar bem uma piriquitinha...
Me enlouquece de amor
Até que eu fique cansadinha.

Só então volto pro ninho
E dou uma de coitadinha,
Pra que o meu pobre passarinho
De mim tenha peninha...

E ele chega todo dengoso,
Me comprando com presente...
Eu queria um amor gostoso!
Gosto mesmo é do clima quente!

Então vivo batendo asas
Fingindo que está tudo azul...
Já que o passarinho lá de casa
Nunca migra pro meu sul...